segunda-feira, 16 de maio de 2011

CENA 7 - Sinhá


7.

As mulheres ouvem o diálogo insólito, entre dois homens, na sala.
- Pega as pernas que eu pego os braços!
- Se a cabeça cair, eu seguro!

Assustadas as duas vêm o motorista e o porteiro carregarem Sinhá.
- O que aconteceu, homi? Mataram Sinhá?!
- Dona Sinhá caiu no meio do Shópis!
- É o Gardenal! – ironiza a filha – Vive entupida!
- Outro dia, vi pela câmera da portaria, dona Sinhá perdidinha no elevador!
Todos riem.  Entram e colocam a mulher sentada na cadeira a cochilar.

- E no Shópis? Deu ataque?! Surtô?
- Cada vez que vai é um bafo diferente!
- Num ia falá mas, nas lojas, Sinhá pergunta o preço de tudo pros pretos.
- Pra ela, todo preto é empregado!
Ouvem Sinhá remexer na cadeira.

- cochicha - Se ela pega vocês aqui, vai fazê um escândalo.
- Na rua, ela fala cada coisa... qualquer hora leva um processo!
- Ela num pode nem participá da reunião de condomínio mais!
- Outro dia, ela passô pela portaria e me chamô de “baiano”.
- E daí? Você num é “baiano” mesmo?
- Pois é! Quem é ela pra me chamá de “baiano”?!
De repente, uma bengala gira e espouca na cabeça do motorista.

- Ai, Sinhá! Num bate em nós, não! – protegendo-se dos golpes.
- Ai, dona Sinhá! Sou eu: o Zecarlinhos! – rindo bestamente.
- Ô dona Sinhá, eu sô o “baiano” da portaria.
- cega – Saiam daqui! Seus baianos!
Os quatro saem desembestados.

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